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Papo Ligeiro: Ave, Alex!

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  • Publicado: 15/09/2016
  • Atualizado: 27/03/2019 às 9:38
  • Por: Racing

<p><img alt="Momentos incríveis: Regresso de Alex a Lausitz, palco de acidente, para exibição em 2003. Comemoração por vitória em prova de ciclismo na Rio-16" src="/wp-content/uploads/uploads/zanardi_11_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>

<p>Circuito de Lausitzring, Alemanha, 15 de setembro de 2001. Era a primeira corrida da Champ Car na Europa. Faltavam 13 voltas para a quadriculada quando o ronco dos motores e a agitação da torcida foram repentinamente substituídos por um silêncio sepulcral – quebrado pouco depois por sons da sirene de uma ambulância e das hélices em movimento de um helicóptero que pousara na pista. Algo péssimo havia ocorrido com Alessandro Zanardi. O italiano estava imóvel no cockpit de seu Reynard-Honda destroçado, com as pernas dilaceradas. Havia sangue no asfalto.</p>

<p>Após seu último pit, o piloto perdeu o controle da direção de seu Reynard-Honda. O monoposto cruzou a área de saída do box direto à pista. A lateral esquerda de seu carro foi brutalmente atingida pelo Reynard-Ford de Alex Tagliani. Após os primeiros socorros, prestados em pista, Zanardi foi removido de helicóptero ao centro médico Klinikum Berlin-Marzahn. A caminho, sofreu sete paradas cardíacas. Quando chegou ao hospital, os médicos não tiveram alternativas: após três horas de cirurgia, amputaram as pernas do bicampeão da antiga CART.</p>

<p>Exatos 15 anos após aquele sombrio sábado, o italiano está de volta aos holofotes do universo esportivo. Desta vez, porém, com grandes notícias. Nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, o italiano faturou a medalha de prata na prova do ciclismo de estrada (categoria H5). Ontem, Alex já havia conquistado o ouro na corrida contrarrelógio. </p>

<p><span style="line-height: 1.6em;">Falar sobre Alessandro Zanardi é uma tarefa extremamente gratificante. Ele é mais que um piloto ou um atleta. É um forte. Definitivamente.</span></p>

<p>Apesar da passagem pela Fórmula 1 não corresponder a essa grandeza – o melhor resultado foi um sexto lugar no GP do Brasil de 1993, com um Lotus-Mugen Honda – o italiano natural de Bolonha é uma das figuras mais marcante do esporte a motor internacional nas últimas três décadas. Em uma época na qual a CART (antiga Fórmula Indy) mostrava força no cenário mundial, com índices de audiência consideráveis em dúzias de países, Zanardi, a bordo de um memorável Reynard-Honda da Chip Ganassi, faturou dois títulos em apenas três temporadas. Um deles, em 1998, com uma superioridade poucas vezes vista em um certame marcado por provas e corridas equilibradas. Superioridade digna de um Michael Schumacher na F1.</p>

<p><img alt="Em 1998, Alex foi campeão da CART com 285 pontos, 116 a mais que o vice" src="/wp-content/uploads/uploads/zanardi1998_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>

<p>Porém, mais que qualquer resultado, a impressionante dedicação de Alex para superar um acidente que quase colocou fim em sua vida é digna de roteiro das melhores produções cinematográficas.</p>

<p>Há quem pense que por ter uma vida financeira bem resolvida, o italiano não teve “contras” nesse período de readaptação. Ledo engano. Durante as primeiras sessões de fisioterapia após o acidente em Lausitzring, o bicampeão da antiga CART confessou ficar deprimido por mal conseguir se equilibrar com as próteses ortopédicas.</p>

<p>Obviamente, seu dinheiro sempre garantiu tratamentos nos melhores centros hospitalares da Europa e Estados Unidos. Porém, a vontade de voltar a andar, adicionada ao bom condicionamento físico, fizeram do italiano um forte paciente. Prova disso, é que, três meses após o acidente, recebeu uma homenagem da revista compatriota Autosprint… de pé!</p>

<p>Contudo, Alex não se contentou apenas em voltar a caminhar. Teimoso, retomou uma velha paixão: o automobilismo. Em 2004, disputou a temporada regular do Campeonato Europeu de Carros de Turismo (ETCC), que no ano seguinte tornou-se o Campeonato Mundial de Carros de Turismo (WTCC). Zanardi permaneceu por lá até 2009, sempre a bordo de um BMW, da equipe Team Italy-Spain, adaptado às suas necessidades. Conquistou quatro vitórias e dez pódios. Mais recentemente, em 2015, correu em 11 etapas do Blancpain Sprint Series.</p>

<p><img alt="Italiano em ação durante o último triunfo no WTCC, em Brno (2009)" src="/wp-content/uploads/uploads/zanardi_4_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>

<p>Como se a volta ao automobilismo e os resultados já não fosse motivos suficientes para exaltá-lo, não é que ele arranjou outro esporte de velocidade para praticar?!</p>

<p><span style="line-height: 1.6em;">Desta vez no ciclismo, substituiu as centenas de cavalos do motor que puxavam seu carro pela força de seus braços para conduzir uma handbike. Conseguiu um quarto lugar em sua categoria na Maratona de Nova Iorque de 2007, além de dez medalhas em Mundiais (duas de prata e oito de ouro) e cinco Olímpicas (duas de prata e três de ouro).</span></p>

<p><span style="line-height: 1.6em;">Em 2009, tive a oportunidade de entrevistá-lo. Ao apresentar minhas perguntas, lembro-me que um dos assessores da BMW pediu para que não abordasse a passagem dele na Fórmula 1. Tive um pressentimento de que a entrevista partiria ao famoso cenário "Pergunte-me apenas o que quero ouvir". Droga! </span></p>

<p><img alt="Após vitória em prova da Rio-16, emoção toma conta de Zanardi no pódio" src="/wp-content/uploads/uploads/zanardi_m11_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>

<p>No entanto, a má impressão passou rapidamente e tudo transcorreu de maneira muito positiva, inclusive com uma resposta técnica bem longa sobre as diferenças entre alguns dos carros que pilotou: F1, Champ Car e WTCC.</p>

<p>Ao final, não havia do que reclamar! Alex respondeu a todas as minhas questões com uma atenção ímpar! Claro que o fato dele ser comunicativo ajudou, mas pude comprovar algo especial: tratava-se de um sujeito simples, centrado. Não deixou que suas vitórias nutrissem a soberba; tampouco que os percalços fizessem dele um amargurado. </p>

<p>Em certo momento, ele soltou um pensamento memorável, não propriamente sobre automobilismo. "Na busca pela total liberdade nos transformamos em escravos exatamente dessa liberdade", disse. "Isso se nota na educação. Se eu fizesse nove de dez coisas corretas quando eu era criança, e somente uma errada, meu pai me repreendia pela que eu fiz errada. Hoje os garotos fazem nove de dez coisas erradas e esperam recompensa pela única correta".</p>

<p>Prestes a completar 50 anos, Zanardi já não esbanja mais a forma física de alguns atrás. O próprio garantiu durante a preparação à Rio-2016 que é mais difícil para manter o desempenho que tinha antes, pois a recuperação é um pouco mais complicada. Mas esse italiano já nos deu provas suficientes que o melhor a se fazer é não duvidar dele. Não descartemos vê-lo nos Jogos Paralimpicos de Tóquio, daqui quatro anos. Ou em qualquer outro objetivo que ele se meta a encarar.</p>

<p>Talvez o seu maior desafio seja não procurar desafios.</p>

<p><img alt="E agora… Qual será o próximo desafio de Alessandro Zanardi?" src="/wp-content/uploads/uploads/zanardi_3_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>

<p> </p>

<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-e3Ti9byTvoE/V3_xil9Z_mI/AAAAAAAAAs8/xmseVob_emMhI4LI-bTilqsM8K-_3CpnQCLcB/s1600/rafael_ligeiro.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-e3Ti9byTvoE/V3_xil9Z_mI/AAAAAAAAAs8/xmseVob_emMhI4LI-bTilqsM8K-_3CpnQCLcB/s1600/rafael_ligeiro.jpg" /></a></div>

<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><em><span font-size:="" mso-bidi-font-weight:="" open="" style="background: white; color: #222222; font-family: "><b>Rafael Ligeiro</b> é jornalista e publicitário. Estreou na Comunicação em 2002, como colunista de automobilismo, esporte do qual é fã desde sua infância. Possui mais de 600 artigos publicados em veículos do Brasil e do Exterior, para segmentos como esportivo, científico e literário. Editor executivo do site </span><span style="color:#B22222;"><span font-size:="" mso-bidi-font-weight:="" open="" style="background: white;"><strong>RACING ONLINE</strong></span></span><span font-size:="" mso-bidi-font-weight:="" open="" style="background: white; color: #222222; font-family: "> desde junho de 2016, acumula ainda passagem por agências de publicidade.</span></em></div>

<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span open="" style="font-family: "><o:p></o:p></span></div>

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