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Cartas do Bird: El Pinar, 1964

3 Minutos de leitura

  • Publicado: 01/03/2017
  • Atualizado: 27/03/2019 às 9:38
  • Por: Racing

<h2><img alt="Matando saudades: Bird é o primeiro a chegar ao carro para a largada estilo Le Mans (carro 22)" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/birdelpinar03_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></h2>

<h2>Numa noite de 1963 Luiz Antônio Greco apareceu na minha casa. Ele já havia substituído no comando da equipe Willys o ídolo de todos nós, Christian Heins, tragicamente falecido na 24 Horas de Le Mans daquele ano. Trazia-me uma proposta irresistível. Não foi fácil me separar dos meus diletos companheiros da equipe Vemag, mas não teve jeito.</h2>

<p>Cumprindo o combinado, dois dias depois eu fui apresentado em Interlagos à sociedade do automobilismo como o primeiro piloto assalariado do Brasil. Tudo começa aí… Você estava linda, era o orgulho da indústria automobilística. Mexeu com os meus sentimentos… Parti para algumas voltas de apresentação, apesar do banco fora da minha medida e com a delicada alavanca de câmbio sem guia, era difícil engatar as marchas, você escorregava deliciosamente, como graciosa bailarina. Foi nosso primeiro encontro. Amor à primeira vista. Seria mais tranquilo se o Greco não tivesse sido tão atrevido, ousando cronometrar uma volta rápida, que não estava combinado, eu ainda não estava preparado e não a conhecia.  Enorme desconforto, cobrança inoportuna diante de muita gente e os críticos jornalistas. Nosso caso começou assim… Aquelas circunstâncias obrigaram-me a maltrata-la antes mesmo do primeiro carinho, mas a afinidade era grande e nos demos bem, nossa sorte foi tanta que meu anjo de guarda nos fez companhia. E arriscan<br />
do até o último fio de cabelo, consegui baixar 1 segundo do seu melhor tempo na terceira volta. Sempre abusei dos limites, invadindo a sua intimidade e você muito fogosa, sempre pedia mais. E num relacionamento muito extravagante descobrimos os nossos potenciais segredos, suportando a opinião dos críticos que achavam que eu a maltratava. </p>

<p>Logo depois dos nossos primeiros dias, aceitaram o meu pedido e tivemos um treino longo e privado. Passamos o dia em Interlagos, estavam lá o chefão Luiz Antônio Greco, Nélson Brizzi, o chefe dos mecânicos, e o grande mestre Chico Landi, que nos observando recomendava menos derrapagens, mesmo que controladas, mas, não tinha jeito, o tempo só vinha com aqueles aparentes exageros, e o seu recorde foi baixado mais 3 segundos. Naquela época entre meus companheiros que a pilotavam, era o garotão Wilson Fittipaldi Júnior que acelerava muito; não queria nem saber, vinha com tudo e você compartilhava os exageros, mas o Luiz Pereira Bueno dizia: “Roda é para rolar não para arrastar”… Até descobrir que só escorregando o tempo vinha, e ele teve que entrar para a ‘irmandade’.</p>

<p>Há cinquenta anos nos vimos pela última vez após a inesquecível vitória do Gran Prémio Air France no autódromo “El Pinar”, no Uruguai. Foi uma glória que teve muita repercussão. Há um ano o Paulo “Loco” Figueiredo resgatou-a das mãos daqueles que a mutilaram, mas eu a reconheci. E em meados de março toca a campainha e em frente a minha casa estava parado um elegante caminhão, e sobre a prancha, como se fosse uma passarela, estava você de volta, minha querida “22”, a musa da minha carreira. Chassi 0001daquele primeiro lote construído no Brás, na Rua Barão de Ladário, com aquele farol no bico. Fomos capa da edição 55 da revista Quatro Rodas, em fevereiro de 1965. Para amplificar ainda mais a minha emoção, descem daquela elegante boleia o meu dileto companheiro Wilson Fittipaldi Júnior e o benemérito, Paulo “Loco”, o salvador desta relíquia que foi o trampolim da carreira dos mais renomados pilotos do automobilismo brasileiro, e ao me entregar uma caneta de ponta porosa grossa me concedeu a honra de escrever uma <br />
dedicatória no seu teto. “Obrigado pelos melhores momentos da minha vida. Saudade”.</p>

<p>Seja bem-vinda ao palco, minha querida. A História do Brasil precisa de você.</p>

<p><img alt="Wilsinho Fittipaldi, Paulo Figueiredo e eu com a Berlineta 22 pilotada por mim em El Pinar." height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/birdtigraopauloloco_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>

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